sexta-feira, 3 de julho de 2009

Corrupção cultural ou organizada?

RENATO JANINE RIBEIRO.

Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos leve a ignorar a grande corrupção

FICAMOS MUITO atentos, nos últimos anos, a um tipo de corrupção que é muito frequente em nossa sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um guarda ou, mesmo, violar a lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é importante prestar atenção a essa responsabilidade que temos, quase todos, pela corrupção política -por sinal, praticada por gente eleita por nós.
Esclareço que, por corrupção, não entendo sua definição legal, mas ética. Corrupção é o que existe de mais antirrepublicano, isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa pública. Por isso, pertence à mesma família que trafegar pelo acostamento, furar a fila, passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei, outras, não.
Mas, aqui, o que conta é seu lado ético, não legal. Deputados brasileiros e britânicos fizeram despesas legais, mas não éticas. É desse universo que trato. O problema é que a corrupção "cultural", pequena, disseminada -que mencionei acima- não é a única que existe. Aliás, sua existência nos poderes públicos tem sido devassada por inúmeras iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da União (órgão do Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo).
Chamei-a de "corrupção cultural" pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é a busca do privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É, sim, antirrepublicana. Dissolve ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz sistema, não faz estrutura.
Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza-se sob a forma de complô para pilhar os cofres públicos -e mal deixa rastros. A corrupção "cultural" é visível para qualquer um. Suas pegadas são evidentes. Bastou colocar as contas do governo na internet para saltarem aos olhos vários gastos indevidos, os quais a mídia apontou no ano passado.
Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor -gastos não republicanos- montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar vultosas somas dos cofres públicos. Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não ser depois de investigações demoradas, que requerem talentos bem aprimorados -da polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito especializados.
O problema é que, ao darmos tanta atenção ao que é fácil de enxergar (a corrupção "cultural"), acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada ou, como eu a chamaria, organizada.
Ora, podemos ter certeza de uma coisa: um grande corrupto não usa cartão corporativo nem gasta dinheiro da Câmara com a faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele ataca somas enormes. E só pode ser pego com dificuldade.
Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda, crime bem menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá-lo à cadeia -e trate de esconder bem os caminhos que levam a seus negócios.
Penso que devemos combater os dois tipos de corrupção. A corrupção enquanto cultura nos desmoraliza como povo. Ela nos torna "blasé". Faz-nos perder o empenho em cultivar valores éticos. Porque a república é o regime por excelência da ética na política: aquele que educa as pessoas para que prefiram o bem geral à vantagem individual. Daí a importância dos exemplos, altamente pedagógicos.
Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela educação. Temos de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza que uma formação ética nos faz sentir pelo crime em geral.
Mas falar só na corrupção cultural acaba nos indignando com o pequeno criminoso e poupando o macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte-americana, em que corromper o fiscal da prefeitura é bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice-presidente favoreceu, antieticamente, uma empresa de suas relações na ocupação do Iraque.
A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, "atrasado". Porém, se pensarmos que corrupção mata -porque desvia dinheiro de hospitais, de escolas, da segurança-, então a mais homicida é a corrupção estruturada. Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos leve a ignorar a grande corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente.

RENATO JANINE RIBEIRO, 59, é professor titular de ética e filosofia política do Departamento de Filosofia da USP. É autor, entre outras obras, de "República" (coleção Folha Explica, Publifolha).

terça-feira, 23 de junho de 2009

Algumas fotos do I Fórum Educacional Contra a Corrupção





GT “Combate à corrupção e o papel da Universidade”

INSCRITOS:
Profº Artur Fontes, Barbara Regiane Esteves Pires, Simone Garcia, Cleber do Carmo, Profº Dave Lima Prada, Profº Sidney Vida, Profº Rogério Salles, Fernando Bosquê, Edson Cruz e Beatriz Vieira.

PROPOSTAS:
- Incentivar os alunos a levarem para o ambiente familiar informações que melhorem a sua conduta valorizando a ética; instruir, também, a sua família no que tange aos pontos da ”educação ambiental”;

- Temas transversais na educação; apoiar várias disciplinas;

- Capacitar professores permanentemente;

- Formar profissionais – e professores - conscientes do seu papel de formação da moral e ética do aluno;

- A universidade deve incentivar o professor a pensar no seu plano de ensino, passando aos alunos a sua matéria, fomentando idéias de ética e combate a corrupção;

- Fazer os alunos entenderem o papel das instituições; e que o bom funcionamento das mesmas depende dos homens que a dirigem;

- Seja quantificada a economia beneficiada por projetos voluntários, para investimentos em projetos educacionais;

- Que os professores possam demonstrar durante o curso o papel social da profissão em questão;

- A universidade deve fomentar o saber, mas, divulgá-lo, de uma forma ampla, concreta e absoluta;

- Agrupar alunos que tenham tempo disponível para relatar nas escolas suas experiências bem sucedidas;

- Incentivar e premiar os melhores alunos da turma.

Combate à corrupção aparece como tema principal de fórum educacional na Unimonte


Ampliar o debate acadêmico sobre os meios de corrupção e debater maneiras de utilizar a educação como arma de valor contra este mal que assola a sociedade brasileira. Este foi o principal intuito do 1º Fórum Educacional Contra a Corrupção - Educação Contra a Corrupção, que acontece na última segunda-feira (22 de junho), na Unimonte, instituição realizadora da iniciativa.


O evento contou com palestras de filósofos e educadores, além de lançamentos de livros e debates sobre o tema-chave do encontro.


A programação teve início com o jornalista, colunista social do jornal A Tribuna e filósofo comportamental, Luiz Alca de Sant'Anna. Ele abordou pontos relativos ao assunto principal do fórum levando ao público toda a experiência adquirida, desde 1973, em sua atuação na área de filosofia do comportamento e dinâmicas de grupo.


Já no período da tarde, às 15 horas, o destaque ficou por conta do professor doutor em Filosofia, Renato Janine Ribeiro. Docente da USP, ele é referência no estudo e análise de tópicos como corrupção, política, ética e filosofia, sendo autor de 41 artigos publicados em periódicos especializados, nove trabalhos em anais de eventos, além de 49 capítulos de livros e 16 obras editadas. Janine foi também vencedor do prêmio Jabuti (mais tradicional prêmio do livro no Brasil) de melhor ensaio, em 2001.


Em seguida, os participantes acompanharam o lançamento de dois livros. Trata-se dos títulos 'Corrupção, Ética e Moralidade Administrativa', da editora Fórum e de autoria de Luiz Manuel Fonseca Pires, Mauricio Zockun e Renato Porto Adri, e também a obra 'A Ética na Política', de Renato Janine Ribeiro, editado pela Nacional. Na sequência, o reitor da Unimonte, Dr Ozires Silva também falou aos participantes.


Encerrando a agenda, às 19 horas, foram promovidos encontros entre grupos de trabalho, compostos por professores da Unimonte e demais interessados. O objetivo foi discutir e entender melhor a complexidade do combate aos meios de corrupção no país, a partir de três temas definidos: 'Combate à corrupção e o papel da universidade', 'Formas de prevenção aos desvios éticos na sociedade civil' e 'O papel da imprensa na fiscalização da moralidade administrativa'.


O 1º Fórum Educacional Contra a Corrupção - Educação Contra a Corrupção é uma realização da Unimonte, por meio do núcleo de Relações Institucionais e Jurídicas, em parceria com o Rotary Clube de Santos. Contou ainda com apoio da OAB Santos, Parque Balneário Hotel, Gráfica Type, Livraria Martins Fontes, União Nacional dos Estudantes (UNE), Ministério Público, Escola Paulista da Magistratura, Associação Paulista de Magistrados, Fema Transportes e Chic Eventos.